domingo, 22 de novembro de 2015
José Brito
Images and words, nights
In the visual arts, from painting to cinema, the night
is often taken as a significant element, expressive content for peace angle or
as part of the announced tragedies. While I
cannot guarantee a representation of the view in the intentional sense,
the work of José Brito has ever defended purposes related to that content, the
truth is that his recent work brings out the deep shadow a climate like this,
between walls, words, collages, black space. Work, in part, pragmatic, based on
a critical axis of consistency, it makes itself as drama, but his temper is not
due to some romantic content, comparing city location with mist or lunar
reference: the photographic side of certain facades , gables, short streets,
loses all identity due to the anonymity of the angles and the Kafkaesque
closing of all windows. A systematic comparison of his last public appereance,
with the earliest production, assures us, in addition to red patches dripping
and gestures fractures soon absorbed into the night, give us an account of a
journey in openness, contained changes, consistent with the previous
inspiration and method.
The materials and the research methodology
José Brito never had enough with the linear learning
of plastics. He belongs, moreover, to a generation in which the internalization
of expressive effects of painting, for example, were already loaded with things
apparently resolved in the twentieth century, time when the man was entertained
to dismantle the arts in general, between remains close to the absurd, the most
radical of minimalism, abstraction conjuncturally to power at the beginning of
the beheading of dogmas, the dismissal of sacred themes. Come to learn to paint
by the denial of their ornamental cloths and the warmth of elementary
structures in the color attribute, essential bond that emaciated or purified
body.
It’s true that José Brito develops research work,
deepening the speech inherent in fine arts and in order to give them several
theoretical attributes, scientific support, bearing in mind, in more specific
terms, the best possible understanding of the significance of poles in the
field the visual arts. On the basis of collections, for a split and named
estate, naturally are the paints, acrylic mostly, and a vast field of graphic
communications clippings, published texts, fragments of a contradictory world,
amputation of texts, photographs left newspapers and magazines, or, themselves,
by author and subject to a higher content search. Are ductile materials and
vulnerable, susceptible to tears, cuts, between juxtaposed ends, voted, by
themselves, a pictorial integration than those destroyed at all, before the
combining with others in the drift of the signals added to the testimony and
the significance of world.
The glues will be based on various fixations, in the
ink after covering cohesion screen, among islanders or continents where you can
uncover photographic images remains, titles, erasures in newspapers, magazines,
posters, billboards, maze completed by urban contexts, Rauschenberg or Warhol
suspected, other different but suddenly calls between visits, left to fall
evenings, acrylic paint, black, few nuances, involving the entire estate of
terraced things or configured by the published representation or retained so
the fixity emerging from mooring sparingly, between loose but short gestures,
gravitating invisible textures at first glance.
Image and word, nights
Collecting the materials mentioned above corresponds
to creative journey and of course marked by choices - as if the author, perhaps
the beholder, sailed into a river where several piers allow breaks for rest and
raising local estates, outside of any community. The choices José Brito makes,
in this sense, are around the word and image, as we have seen. The word is
dragged on the clippings from newspapers and magazines, can give the everyday
world news, conflicts, crises, history, incidentally along with other
testimonies and lots of banal facts, not like the taste, parallel images that
dilate the visible and the channel into the realms of art and consumption. The
burden of such experiences often extend, qualify, providing those who go on
enjoying fruitful paths of creativity, so told to Picasso, in one of its
meetings, the painter Juan Gris.
Arranged the sources, manipulated by poetic twinning,
between images of Portuguese origin texts, seen in a random or capable way to open spaces of
questioning, the photographic record can come forward and backward in an
illusory depth, losing and highlighting that painting made mainly of black
values, open here and there by burnish succinct, windows veils hits the breeze,
larger surfaces, blurring scenography, urban angles that knows what conceal,
time certainly silences without characters, abandonment of life, fractures,
cracks, impulsive written and then washed without deletion, the night, but
because it is hard to come by these bodies and plans to percept them as in the
day. When the author tells us in black ink stains, paint-the-china and acrylic,
both diluted in the name of transparency that allows you to calculate the
visible upstream travel in plongé (remember the beautiful traveling from
Tarkovsky in Stalker) and reach far into the night to the promontory where it
rests and there was dripping water, perhaps the lapping voices of yesterday
behind closed windows, disguised brick houses with mortar and white paint. Thus
we see, beyond the aesthetic play, many notes of the sensible things slowly
passing before our eyes, the translucency that warn us of submerged objects,
memory and experience built under the imperatives of reason (also made of
emotions).
As an observer of this work, and all that it hides
from living perception, I still think that all research of Brito, until the
structure of static stoppings sounded out in the shade, tells us of lost
cities, distant from current remains and dehumanised , a seepage of dirty
posters and absurd texts, blurred images of yesterday or the future, always
under the great cover of night, despite clarities that seem to show more decay
than rebuilding.
Rocha de Sousa,
in JL, Jornal de Letras, Artes
e Ideias,
Nº 1018, de 07 a 20 de Outubro de 2009,
pág. 32 e 33
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
domingo, 22 de fevereiro de 2015
Valter
Hugo Mãe
Ver no
escuro
A
obra noturna de José Brito é o espirito do mundo dos homens. Uma radiografia à
alma múltipla da humanidade. Digo noturna porque é feita desse negro cobrindo
as notícias dos dias, como a oclusão de todas as informações, de todo o saber,
o que parece também suscitar a necessidade de reabilitar o mundo a cada madrugada,
o que solicita permitir o passado mas urgir no presente e para o futuro. E digo
noturna porque os dias vão todos às noites. Quando vemos a obra humana nas
telas do José Brito estamos convocados para pensar sobre o declínio, um
afundamento de todas as matérias na fantasmagoria olvidante da escuridão. Mas é
verdade que toda a escuridão pressupõe a luz e, por isso, a regeneração.
O que me instiga passa pela sugestão de uma
truculenta sujeição da matéria à ausência de luz. O preto, como ausência de cor
mas também como cor demasiada, derramada sobre as texturas e suas imagens igual
a uma malha que aprisiona. Julgamos ver o gradeamento, só aparentemente casual,
de um cárcere. A pintura prende, esconde, subjuga. O que somos está sob a
opacidade definitiva daquela tinta. Esperar que dissipe, como assim se levantam
as noites, é uma falácia. O que José Brito faz problematiza a regeneração, mas
a sua arte é peremptória e estrutural, quando age passa perto da punição.
Pela truculência, há um lado de terra das
telas de José Brito. As suas imagens são sempre lugares e o que se vê ganha
reminiscências de edifícios e apontamentos da sua engenharia complexa. Os
jornais de que tantas vezes parte usando como elemento fundamental, servem de
mapa estranho, como se víssemos as coisas do alto, já transformadas numa
geometria simplificada, em que se acentuam contornos e diferenças bruscas, e se
mesmizam os infinitos pormenores. O derrame impiedoso da tinta negra cria o
efeito de um corpo gigante que se sobrepõe ao mapa e, por conseguinte, às
construções sugeridas. Punindo, efetivamente, o mundo incapaz de mostrar
meticulosamente o seu susto, o susto é a promessa de esquecimento. Uma anulação
completa dos que aprenderam, sentiram, sonharam, ganharam ou perderam alguma
coisa.
O
que muitas vezes acontece, desde logo pelo à deriva com que a cor é aposta,
passa pela criação de um estranho efeito caligráfico. De gesto largo,
efetivamente com ar de gigante, não deixa de criar também a ideia de que algo
se escreve. A tela é uma inusitada folha em que a linguagem inventa os seus
próprios signos. Não poderemos verbalizar inequivocamente, mas podemos sempre
propor uma leitura. Perto dos muros de protesto, aludindo às camadas de
contínuos cartazes colados para anúncio de todos os assuntos, o trabalho de
José Brito discute o sujo. O que pode ser equilibrado plasticamente, ou
plasticidade do sujo, que é o mesmo que dizer do acaso.
A sugestão de casualidade é uma pesquisa
acerca dos limites da arte. Importa saber que diferença existe entre a imagem intencional
e aquela que comparece pela espontânea atuação das pessoas imbuídas de
preocupações externas à arte. Num certo sentido, no que respeita à intervenção nos
muros públicos, a distribuição de cartazes ou grafites com todo o tipo de
incursão passa sobretudo por uma ética do espaço público cuja estética será
secundarizada ou absolutamente menosprezada. Para o trabalho de uma artista
plástico, o que sobressai é a necessidade de dotar uma ética de um propósito estético.
Ou seja, o sujo não pode ser banal. A sua utilização, na tela sempre tão
sacralizadora, vai implicar uma edição, um corte, uma ficção que não permite
mais que estejamos a falar dos muros reais mas de um processo mnemónico e de
reconhecimento por imitação ou semelhança.
A questão da memória, nestes complexos
mapas não se obstruem, é fulcral. Se a arte deve esclarecer ou simplesmente
enunciar é uma das questões. O que José Brito faz não esclarece propriamente.
Ele enuncia as questões e, típico do que se vê no escuro, cada um lida com os
fantasmas que tiver. Em último caso, a arte só pode ser assim.
Convivo há bastantes anos com uma tela de
José Brito. Um trabalho criado em homenagem às vítimas das Torres Gémeas em que
se pressentem duas colunas simétricas. A tinta negra cria um colete de forças,
uma espessa rede de ferro que encerra a imagem para lá do que possamos passar. Observando
a partir dos espaços livres, somos exteriores ao nosso próprio mundo.
Assistimos impotentes. Não somos convocados à história da humanidade. Apenas
passamos ao lado, como testemunhas desimportantes para as suas próprias vidas.
O caso das Torres Gémeas é perfeito para o pensamento vigilante de José Brito.
Há uma conspiração subjacente à simples ideia de sociedade. Desmistificá-la é o
fito dos lúcidos. Os artistas não são avestruzes inexplicáveis. Por vezes, os
artistas são clarilíneos imersos num universo de entropia. Assim o José Brito.
Com a sua escuridão profunda, enfim, faz luz.
Valter
Hugo Mãe
Jornal de Letras, Artes e Ideias,
ano XXXIV, Número 1158 – De 18 de fevereiro a 3 de março de 2015, página 34
sábado, 21 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
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