sábado, 7 de junho de 2008

Agarro o horizonte pela ponta dos dedos

José Brito, técnica mista s/tela, 70x55 cm, 2003


José Brito, nesta série de pinturas, interroga-se sobre os efeitos do actual sistema de comunicação globalizado. A intensidade, a extensabilidade e a velocidade da produção de informação como age no destinatário? Quem é o destinatário? Que grau de comunicação se estabelece? Não sendo a comunicação somente um material de informação, sendo então uma forma, qual é essa forma de ver, de sentir, de se comportar?
José Brito prefere os lados e a parte de trás da comunicação, prefere fazê-la rodar, para a receber nas suas várias facetas, que nunca se conseguem ver todas ao mesmo tempo.
O espectáculo da comunicação contemporânea é percepcionado por José Brito como um caos de imagens e de palavras, a partir do qual organiza a sua pintura. Cola sobre toda a superfície da tela páginas de publicações periódicas, para sobre estas traçar manchas de tinta preta. A percepção pelo pensamento é fragmentária, convoca os contrários. Haveria luz se não houvesse obscuridade?!… Poderia haver obscuridade se a luz não existisse?!…
O gesto do pintor estabelece uma relação de tensão entre a acção obscurecedora da matéria negra e os fragmentos luminosos de cores e de palavras, que aquele dá a ver. Transitórias e moventes são estas manchas negras. São a selvajaria, a liberdade, sobre as ideias feitas e os mecanismos do condicionamento cultural.
O pintor, quadro a quadro, desenvolve a vivificante faculdade do esquecimento. Reconstruindo a teia da incomunicabilidade, de quem impõe o seu fluxo pulsional de indivíduo a qualquer constrangimento provocado pelos interesses da comunicação global.

António Rodrigues
Faculdade de Belas-Artes de Lisboa

Sem comentários: