Quando
você notou o seu interesse pela arte? Como sua família reagiu?
Acredito que não fui eu que tive a
percepção de que tinha algum talento para as artes mas sim os meus estimados professores.
Mesmo após a minha entrada para a
António Arroio eu apenas pensava trabalhar num escritório, ter um emprego e um
vencimento seguro no final de mês. Entretanto, de forma intensa e
apaixonada, comecei a interessar-me por arte, mas na qualidade de fruídor,
nunca na condição de criador. Na fase final do curso, no 12º ano, comecei a copiar obras de Amadeo de Sousa Cardoso e Vieira da Silva. Trabalhos que destruí e hoje me
arrependo. Ambos me influenciaram bastante e creio que essa influência ainda
hoje é visível no meu trabalho. Convém salientar que ainda guardo, ou melhor a
minha mãe, trabalhos que fiz durante o 5º e 6º ano de escolaridade. São
trabalhos que de facto revelam grande expressividade plástica e sentido
estético.
Quando fiz a candidatura à universidade
meu pai aconselhou-me por um curso que, segundo ele, possibilitasse um futuro
mais sólido: arquitectura, engenharia...
Mas, agora todo o meu universo era pictórico, apenas pensava em pintura e ser pintor. O trabalho que hoje desenvolvo iniciou-se neste período, mais concretamente em 1987.
Qual
foi sua formação artística?
Tenho como formação artística: o Curso
de Artes Técnicas do Fogo da Escola Secundária Artística António Arroio,
Numa primeira fase são essencialmente
pintores portugueses: Amadeo de Sousa Cardoso e Helena Vieira da Silva.
Depois veio o contacto com os mestres
cubistas e sobretudo aqueles ligados à colagem: Picasso, Braque e Juan Gris. Em
Outros mestres que influenciaram a minha
pintura: Rembrandt, Velásquez, Joan Miró, Kurt Schwitters, Mark Rothko, Alberto
Burri, Manolo Millares, Andy Warhol, Robert Rauschenberg, Anselm Kiefer, …
A poesia de Fernando Pessoa é também uma
das minhas grandes fontes de inspiração e libertação.
A minha obra está intimamente associada
à fragmentação do eu em Pessoa a qual
permite conciliar o pensar e o sentir. Organizo a fragmentação num todo que é a
pintura.
Faço sempre questão de pintar sobre
jornais em língua portuguesa. O português representa um património cultural
imaterial que é importante salvaguardar. Como dizia Fernando Pessoa: “Minha
pátria é a língua portuguesa”.
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