quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Quando você notou o seu interesse pela arte? Como sua família reagiu?

Acredito que não fui eu que tive a percepção de que tinha algum talento para as artes mas sim os meus estimados professores.

Mesmo após a minha entrada para a António Arroio eu apenas pensava trabalhar num escritório, ter um emprego e um vencimento seguro no final de mês. Entretanto, de forma intensa e apaixonada, comecei a interessar-me por arte, mas na qualidade de fruídor, nunca na condição de criador. Na fase final do curso, no 12º ano, comecei a copiar obras de Amadeo de Sousa Cardoso e Vieira da Silva. Trabalhos que destruí e hoje me arrependo. Ambos me influenciaram bastante e creio que essa influência ainda hoje é visível no meu trabalho. Convém salientar que ainda guardo, ou melhor a minha mãe, trabalhos que fiz durante o 5º e 6º ano de escolaridade. São trabalhos que de facto revelam grande expressividade plástica e sentido estético.

Quando fiz a candidatura à universidade meu pai aconselhou-me por um curso que, segundo ele, possibilitasse um futuro mais sólido: arquitectura, engenharia...

Mas, agora todo o meu universo era pictórico, apenas pensava em pintura e ser pintor. O trabalho que hoje desenvolvo iniciou-se neste período, mais concretamente em 1987.

 

Qual foi sua formação artística?

Tenho como formação artística: o Curso de Artes Técnicas do Fogo da Escola Secundária Artística António Arroio, em Lisboa. Licenciatura em Artes Plásticas/Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Mestrado em História da Arte pela Universidade Lusíada, em Lisboa.

 

 Que artistas influenciaram seu pensamento?

Numa primeira fase são essencialmente pintores portugueses: Amadeo de Sousa Cardoso e Helena Vieira da Silva.

Depois veio o contacto com os mestres cubistas e sobretudo aqueles ligados à colagem: Picasso, Braque e Juan Gris. Em 1991 a Fundação Calouste Gulbenkian trás a Lisboa uma mostra retrospectiva de Antoni Tàpies. Este foi o meu grande momento, como que a oportunidade que há muito esperava. Não conhecia Tàpies e, a partir do momento que entrei na sala de exposição, foi como que tivesse encontrado a luz que há muito procurava: estava perante o grande Mestre!

Outros mestres que influenciaram a minha pintura: Rembrandt, Velásquez, Joan Miró, Kurt Schwitters, Mark Rothko, Alberto Burri, Manolo Millares, Andy Warhol, Robert Rauschenberg, Anselm Kiefer, …

A poesia de Fernando Pessoa é também uma das minhas grandes fontes de inspiração e libertação.

A minha obra está intimamente associada à fragmentação do eu em Pessoa a qual permite conciliar o pensar e o sentir. Organizo a fragmentação num todo que é a pintura.

Faço sempre questão de pintar sobre jornais em língua portuguesa. O português representa um património cultural imaterial que é importante salvaguardar. Como dizia Fernando Pessoa: “Minha pátria é a língua portuguesa”.

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