quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Que comentários você faria sobre sua obra?

Faço uso das páginas dos jornais (apropriação) e da colagem (manipulação e intervenção em recortes de imprensa), exploro esta técnica artística tanto para re/leitura como para representação do mundo contemporâneo.

Aproprio-me das páginas dos jornais e intervenho sobre as mesmas estendendo (com um trapo) manchas de tinta negra (tinha da china com tinta acrílica preta) bastante líquida de modo a possibilitar um elevado grau de transparência, isto é, permitindo ao observador uma re/leitura, ainda que parcial, dos textos.

Estas folhas de imprensa (sempre jornais portugueses visando a defesa da língua portuguesa como património cultural da humanidade a preservar) quando colados sobre a tela, articulam-se de modo a reescrever uma nova narrativa e constituindo um jogo estético, quadro de anotações e um sem fim de ideias e sensações. Uma torrente que impele a memória e a vivência construída de maneira impulsiva e directa.

Os jornais são também uma imagem da infância, o suporte que trazia a notícia mas que, simultaneamente, servia, nas casas mais modestas, como elemento decorativo dos louceiros das cozinhas negras da fuligem das lareiras.

Tal abordagem prática passou a suscitar inumeráveis questões teóricas acerca da composição gráfica/imagem (mancha gráfica) enquanto registo e forma de expressão; da origem e desenvolvimento histórico da técnica do recorte e da colagem; da colagem na história da arte moderna e contemporânea; do uso de imagens fotográficas pela comunicação visual e pela publicidade e, particularmente, acerca dos sentidos que uma mensagem visual pode produzir, entre outras.

Esta pesquisa, iniciada em 1987, ainda como aluno da Escola Secundária Artística António Arroio, desenvolveu-se inicialmente em forma de estudos exploratórios tendo sofrido, ao longo de todo este tempo, um percurso processual de visível sequência no plano das poéticas contemporâneas.

Com esta pesquisa pretendo aprofundar o estudo da colagem para assim compreender o processo de reutilização dos resíduos/folhas de jornal impressos e do registo fotográfico transformado numa nova superfície: não é a reunião dos papéis colados que faz a colagem, mas é o encontro de imagens que nos dá a colagem num âmbito mais sensível da expressão dinâmica e da visão activa.

Por outro lado, pretendo ampliar o universo da pesquisa desenvolvida até agora, examinando também as especificidades que a imagem passou a ter, ao ser enormemente apropriada e manipulada nos e pelos meios electrónicos disponíveis na actualidade.

O objectivo geral passa por aprofundar e desenvolver a minha pesquisa, conferindo-lhe maior fundamentação teórica, atribuindo-lhe contornos científicos definidos, vinculando-a mais directamente à linha de pesquisa sobre a qual tenho vindo a desenvolver todo o trabalho em torno da pintura/colagem.

Sob o ponto de vista dos objectivos específicos pretendo compreender em profundidade os significados das mensagens visuais, realizar pesquisa bibliográfica pertinente e desenvolver e estruturar um método didáctico de apropriação e intervenção em imagens.

Para isso ambiciono efectuar um estudo e investigação da colagem e o seu lugar na História da Arte. Estudo/abordagem da obra de alguns artistas que utilizaram a colagem ao longo da História da Arte (Picasso, Braque, Gris, Schwitters, Rauschenberg, Warhol, Tapiès etc.) e saber o papel da imagem fotográfica impressa na contemporaneidade. (A imagem fotográfica veiculada em suportes fixos: Jornais, Revistas, cartazes, out-doors, etc.)

 

 Quais foram as exposições mais importantes com sua participação?

Todas as exposições foram, para mim, muito importantes embora a última é sempre aquela que se reveste de maior sentido. Já não expunha, individualmente, no Brasil desde 2004. Tive várias oportunidades mas sempre fui adiando…

Mas quero dizer-lhe que amo o Brasil, acredito neste jovem país e gostaria muito de viver e trabalhar aqui de forma mais efectiva.

Há cerca de cem anos pai de minha mãe casou, no Rio de Janeiro, com uma senhora de origem portuguesa indo viver para New York. Meus tios mais velhos nasceram naquela encantadora cidade. A família regressou a Portugal pelo que se perdeu a relação com os EUA bem como com o Rio de Janeiro/Brasil.

Lembro a minha primeira exposição individual, em Tondela, que por questões afectivas fiz questão que fosse nesta cidade.

Com a exposição na Galeria Cândido Portinari, em Roma, dei início a um processo de projecção além fronteiras. Depois a minha exposição na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife. Mais tarde a exposição no Palácio da Abolição em Fortaleza; a exposição no Palácio das Artes em Belo Horizonte; a exposição na Galeria Judith Daprà em São Paulo.

Como grande admirador da arte e cultura espanhola, a exposição na Fundació Niebla, próximo de Barcelona, foi também muito significativa para mim. É a casa do grande pintor catalão Josep Niebla e, sobretudo, um grande amigo, um homem com uma enorme dimensão humana.

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