quinta-feira, 26 de junho de 2008

Das mãos escorrem-me lembranças

José Brito - técnica mista s/tela, 116x89 cm; 2005

sábado, 7 de junho de 2008

S/Titulo

José Brito, técnica mista s/tela, 100x73 cm, 1994

S/titulo

José Brito, técnica mista s/tela, 116 x 89 cm, 1994

S/Titulo

José Brito, técnica mista s/tela, 100x73 cm, 2001

busco o vento que lhe acaricia o rosto

José Brito, técnica mista s/tela, 70x90 cm, 2005


José Brito, in this sequence of paintings, questions about the effects of the actual globalized system of comunication. How does react the intensity, extensability and velocity of the production of information in the addresee? Who´s the addresee? Which level of comunication established itself? If the comunication isn´t just a information’s material, but also a shape, what is that way of see, feel and behave?
José Brito prefers both sides and the back of the comunication, he prefers to make it go round, to receive it in many features, make it impossible to see all of them at the same time.
The show of the contemporary comunication is captured by José Brito like a chaos of images and words, which helps him to organize his paintings. In the canvas, he glues pages of newspapers, so he can draw black spots above them. The perception of the thought is fragmentary, calls up the opposite sides. There’ll be light if the obscurity didn’t exist? There’ll be obscurity if the light didn’t exist?
The painter’s gesture establish a tense relationship between the obscure action of the black material and the luminous fragments of the colors and words, that he shows. Passing and moving are these black spots. They represent the savageness and freedom over the ideas and the mechanism of the cultural condition.
The artist develops, painting by painting, a vivid faculty of oblivion. He reconstruct the incomunicability's net, which impose his individual pulsing flux to any sorrow provoked by the interests of the global comunication.

António Rodrigues

Agarro o horizonte pela ponta dos dedos

José Brito, técnica mista s/tela, 70x55 cm, 2003


José Brito, nesta série de pinturas, interroga-se sobre os efeitos do actual sistema de comunicação globalizado. A intensidade, a extensabilidade e a velocidade da produção de informação como age no destinatário? Quem é o destinatário? Que grau de comunicação se estabelece? Não sendo a comunicação somente um material de informação, sendo então uma forma, qual é essa forma de ver, de sentir, de se comportar?
José Brito prefere os lados e a parte de trás da comunicação, prefere fazê-la rodar, para a receber nas suas várias facetas, que nunca se conseguem ver todas ao mesmo tempo.
O espectáculo da comunicação contemporânea é percepcionado por José Brito como um caos de imagens e de palavras, a partir do qual organiza a sua pintura. Cola sobre toda a superfície da tela páginas de publicações periódicas, para sobre estas traçar manchas de tinta preta. A percepção pelo pensamento é fragmentária, convoca os contrários. Haveria luz se não houvesse obscuridade?!… Poderia haver obscuridade se a luz não existisse?!…
O gesto do pintor estabelece uma relação de tensão entre a acção obscurecedora da matéria negra e os fragmentos luminosos de cores e de palavras, que aquele dá a ver. Transitórias e moventes são estas manchas negras. São a selvajaria, a liberdade, sobre as ideias feitas e os mecanismos do condicionamento cultural.
O pintor, quadro a quadro, desenvolve a vivificante faculdade do esquecimento. Reconstruindo a teia da incomunicabilidade, de quem impõe o seu fluxo pulsional de indivíduo a qualquer constrangimento provocado pelos interesses da comunicação global.

António Rodrigues
Faculdade de Belas-Artes de Lisboa

S/Titulo

José Brito, técnica mista s/tela, 46x55 cm, 2006

S/Titulo

José Brito, técnica mista s/tela, 46x55 cm, 2005

S/Titulo

José Brito, técnica mista s/tela, 46x55 cm, 2005

S/Titulo

José Brito, técnica mista s/tela, 46x55 cm, 2005

S/Titulo

José Brito, técnica mista s/tela, 46x55 cm, 2005

S/Titulo

José Brito, técnica mista s/tela, 46x55 cm, 2005

Há Petróleo na Galiza

José Brito, técnica mista s/tela, 97x130 cm, 2003

JOSÉ BRITO
EVOCAÇÃO DA MEMÓRIA



Um dia, ao entardecer, após rasgar as notícias da época, depois de as colar intencionalmente num suporte plástico, José Brito terá imaginado que sentido havia naquele caos, o ruído do mundo, e como tornar consensuais, na semelhança, as diferenças dos lugares e dos gritos, a evocação da própria memória. Havia nisso uma espécie de projecto pleonástico – não se evoca o que já é evocação – mas ao jogo cruzado e fecundo da pintura tais incongruências pouco importam: dizer errado o que é certo na expressão da linguagem pictórica toca mais de perto a verdade interior do que a gramática laminar e respectivas erudições.
Antes do mais, um pintor é poeta, e o seu discurso não tem as orações medidas, tem a medida do sonho e da subversão incandescente das palavras. «Não basta evocar o céu azul» – título de um dos seus quadros de José Brito – e isso pode ajustar-se ao ser dessa aparência enquanto outros céus se desvanecem ou retornam ao eventual devaneio do nosso olhar: são memórias evocadas e de novo trabalhadas para alargar a consciência do espaço e do tempo.
Ao princípio, em 1999, José Brito tapava o espaço e as próprias memórias colando papéis sobre papéis e ocultando o nexo dos textos com uma imensa arquitectura de manchas negras. Embora por cima dos papéis ainda visíveis viessem deslizar tintas de diversas tonalidades, o preto unificava tudo, consensualizava os opostos, opacificava o horror e o excesso de cada notícia.1 A essas composições o autor chamou «Parede de Memórias» – e a razão que lhe assistia baseava-se no muro de destroços que os jornais anunciavam, sobrepostos ou justapostos, como os cadáveres carregados de memórias ainda bem vivas, apodrecimento prévio antes da vala comum, coisas suspeitadas através das grades oleosas e negras, novo muro férreo que nos barrava o olhar, a notícia de cada morto, de gente e mantas rotas atrás das peles engelhadas, vermelhos de sangue, letras da clandestinidade, ocres de papéis queimados, cinzas do cotim amarrotado. A memória dessas paredes pode renascer (evocada) das imagens que o cinema nos ensinou a descobrir, passando-as devagar perante a câmara fixa na gare ferroviária, os nossos olhos como que grudados à janela da óptica.
De um ponto de vista estritamente técnico – deixando agora um pouco de lado a nossa leitura subjectiva – a evolução daquele processo levou o autor a trabalhar com intuitos mais seguros, apelando ao «desarranjo como arranjo, à sobreposição como justaposição, à diversidade na unidade».2 José Brito conferia assim, por estranho que
pareça, homogeneidade à composição, leituras imprevistas conforme a distância, convidando o observador a recuar e a avançar – forma quase cínica de exprimir a harmonia das cores e do preto, entre salpicos e cintilações, da mesma forma que brutalizava o olhar próximo no desvendamento de pedaços de textos, notícias sobre os desastres principais, alegrias patéticas de um consumo enlatado.
A parede de memórias consolidava-se e os comboios partiam. Depois, à medida que o tempo dominou o espaço de outra forma, também José Brito se abriu mais ao compromisso, entre «Há petróleo na Galiza» e «Não basta evocar o céu azul». Então o negro por vezes entorna-se, como crude, na horizontal sem limite e a «parede» cai para lá das águas salgadas, voltando às praias empapadas de uma matéria oleosa e espessa, na qual rolam, mortas, gaivotas e outros pássaros do habitat meridional. Claro que nada disto está escrito no quadro, a função da pintura, embora possa conter uma dimensão pedagógica e poética, não consiste em substituir-se à leitura das catástrofes ilustradas na comunicação social. E contudo, em exemplos raros de uma grandeza absoluta, certos artistas conseguiram aquela impossibilidade, geminando crimes, tragédias, guerras, gritos de mães diante dos filhos estilhaçados ou gargantas de cavalos urrando, além de restos de armas e de homens, atordoando os céus com a sua agonia sem nome. Foi Picasso quem conseguiu tudo isso, de uma só vez, num só quadro, figurando os bocados do mundo a preto e cinzas, e conservando apenas, suspensa do tecto, uma lâmpada nua.
Serei castigado por escrever isto a propósito de subtilezas meio encobertas na pintura de José Brito. O pântano em que a sua indignação ferve não mostra nenhum outro horror no horizonte, apenas coisas sobrepostas e um irremediável adormecimento da tarde. Há madrugadas também, arquitecturas brancas suspensas na falésia sombria, medindo pela luz da lua a hipótese de um novo dia reescrever a vida – tempo de «Agarrar o horizonte pela ponta dos dedos». Entretanto a noite torna-se mais densa, as coisas quase invisíveis, surpreendemos rochas de cinza a cercar um azul porventura marítimo, e por fim a palavra público em papel baço, legível, inteira, numa madrugada de assombros.
Recorrendo à memória, a memória que tanto evoca como pode ser evocada, os quadros de José Brito, os mais antigos, completam a lógica do círculo, o caminho da nossa travessia pela sala de exposições. E o consenso chega, as diferenças justificando a semelhança. É a madrugada, presumo, entre os negros construtivos da composição – e de novo os papéis, as palavras, as vozes, uma matéria como suporte de tintas com algum valor lumínico, ocres pálidos, rosas, brancos meio escondidos, roxos brandos. A chegada a este ponto corresponde a uma nova partida. E o grau de informação por onde se fez parte da nossa deriva ganha agora o contorno da paisagem, voltando a administrar as tensões entre obscuridades e fragmentos luminosos, traços de um mundo da comunicação escrita e das sujidades urbanas. O pintor, quadro a quadro, parece desenvolver a apropriação transitória do visível e logo a passagem ao esquecimento. Brito reconstrói o lado da sua pintura em que «a teia da incomunicabilidade» pode impor o seu «fluxo pulsional de indivíduo a qualquer constrangimento provocado pelos interesses da comunicação social».3
O que importa, por último, entre esses interesses e o gesto de libertar cores ou palavras no centro negro do pântano, é saber, de consciência aberta, o sentido possível desse gesto na concavidade da memória.

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1 referência ao artigo «Lugar aos Novos», de R. Sousa, JL 10.02.99
2 referência ao artigo anterior e a propósito de uma análise de Cristina Tavares
3 referência por excertos do prefácio de António Rodrigues para a exposição de José Brito realizada no Brasil e Itália, em 2001.


ROCHA DE SOUSA
Faculdade de Belas-Artes de Lisboa

Vulto Solene

José Brito, técnica mista s/tela, 130x97 cm, 2005

Da luz nada sei apenas que ilunina o caminho

José Brito, técnica mista s/tela, 116x89 cm, 2005

não basta existir para ser completo

José Brito, técnica mista s/tela, 130x97 cm, 2005

Crepúsculo de Um Sonho

José Brito, técnica mista s/tela, 130x97 cm, 2004

Ajusto a Mancha à Ideia

José Brito, técnica mista s/tela, 120x90 cm, 2003

Dobram os Sinos da Minha Aldeia

José Brito, técnica mista s/tela, 130x90 cm, 2003

Olho os Campos e Sofro

José Brito, técnica mista s/tela, 120x90 cm, 2004

Arquitectura de Um Sonho

José Brito, técnica mista s/tela, 100x73 cm, 2003

Não basta evocar o céu azul

José Brito, técnica mista s/tela, 80x65 cm, 2003
Diálogos entre jornalismo, pintura e memória

Jornalismo, artes plásticas e memória. Nas manchetes diárias dos jornais, a intervenção pictórica. Sobre a efemeridade das notícias, a reflexão e a estética. Sobre os sentidos jornalísticos, o nascimento de outras formas de ver e sentir o mundo. Arte e notícia dialogam no instigante trabalho do artista plástico português José de Brito, que inaugura hoje, no Centro Cultural do Abolição, a mostra “Evocação da Memória”.
Para além da estética, o português também busca em seu trabalho a preservação e a perpetuação da língua portuguesa, revelando a identidade cultural que advém do idioma.Ele utiliza três jornais, em tamanho standard, para compor suas obras. Antes de pegar o pincel, seleciona temas da atualidade que lhe chamam a atenção nos jornais O Expresso, O Público e Diário de Notícias, todos d´além mar. Para a mostra no Abolição, o conflito no Oriente Médio, a guerra declarada por Bush, no Iraque, a omissão das Nações Unidas formam os assuntos escolhidos. Depois, a tinta acrílica ganha o papel jornal. Mas sem o exagero nas cores. “O mundo é preto e branco, daí porque uso principalmente as duas cores sobre as machetes”, diz José de Brito. “Muitas vezes, alguns artistas usam as cores como uma muleta; prefiro o preto e branco, que causam maior impacto”.
Seu processo de criação segue. Após a intervenção no papel jornal, a colagem e montagem no suporte - telas comuns, maiores que uma página de jornal. Entre os textos das notícias, algumas “janelas”, onde as palavras se perpetuam dentro da obra de arte, possibilitando ao público o resgate de trechos de textos. Além da pintura e da notícia, a busca do artista é, também, pela memória, já que a efemeridade do jornal não resiste ao dia posterior.
Segundo o curador Amândio Silva, a obra de José de Brito “é um convite permanente à intuição, à procura, à descoberta, estimuladas pelos mistérios de cores aparentemente soturnas, mas sempre plenas de harmonia”, define. “Suas telas não devem ser vistas apenas de passagem; a cada olhar aparece mais um pormenor, mais um elo de entendimento da sua vontade em abrir uma janela, em manter a esperança, apesar do mundo triste a que o artista e nós não podemos fugir”.Na definição do próprio artista, “Evocação da Memória”, faz parte de um projeto que leva em conta uma técnica e uma proposta que visa entender o desconcerto do mundo, gritando a nossa essência humana privada de cor pela monotonia e intoxicada pelas palavras gastas”. Técnica que se afirma na constante experimentação e busca de novos e diferentes resultados. “Procuro questionar a linguagem artística. Os meus quadros surgem a partir de páginas de jornal sobre as quais sobreponho a mancha de tinta negra. Coladas sobre a tela articulam-se de modo a rescrever uma nova narrativa”, completa Brito.
Formado pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Brito começou sua carreira no figurativo. Aprendeu e estudou o estilo dos mestres do renascimento e do abstrato, para, em seguida, questionar os cânones da academia e partir para uma linguagem própria. É essa fase que mostra em “Evocação da Memória”.
No começo da fase, em 1999, Brito tapava o espaço e as próprias memórias colando papéis sobre papéis ainda visíveis, deslizando tintas de tonalidades variadas. O preto unificava tudo. Com a evolução dos trabalhos, outras cores foram aparecendo, sutis - o azul, o amarelo, o vermelho.
Natural de Lobão da Beira, uma aldeia portuguesa, é a primeira vez que José de Brito expõe em Fortaleza e a segunda no Brasil. Em seguida, a mostra segue para Belo Horizonte, São Paulo e Brasília, quando o artista volta para Lisboa, em Portugal. A exposição foi viabilizada através de uma parceria entre a Secretaria da Cultura do Estado e a Fundação Luso-Brasileira. A exposição “Evocação da Memória” fica aberta ao público até o dia 30 de abril, de segunda a sexta, das 8h às 18h. Já amanhã e no sábado, também no Centro Cultural do Abolição, no período da tarde e da noite, haverá um workshop com José de Brito e artistas locais.

André Marinho, in Diário do Nordeste, 2 de Abril de 2004

à beira do rio aprendemos a enlaçar as mãos

José Brito, técnica mista s/tela, 116x89 cm, 2005


EVOCAÇÃO DA MEMÓRIA

“C’est fou ce que le monde est beau”. Com esta frase emblemática, o filósofo Yves Michaud, professor na Universidade de Rouen, na França, inicia um de seus últimos livros ,“L’Art à l’état gazeux”, no qual disseca a arte contemporânea - video arte, instalações, etc - deixando claro que, nos tempos pós-utópicos em que vivemos, ela vem perdendo seu poder de transformar a vida, para se converter numa via de experiências e de sensações. E, em entrevista concedida após palestra em São Paulo, ele pergunta: “Como guardar o vestígio de experiências fugidias?”. Como um grande pensador que é, Michaud afirma menos que questiona, mas lança mais luz no túnel do que a que emana daqueles que se sentem, muitas vezes irresponsavelmente, donos da verdade.
Esta colocação nos acorre ao analisarmos a obra que o artista português José Brito vem realizando nos últimos anos, sobretudo aquelas incluídas na mostra “Evocações da Memória”, que ele mostrou em Portugal, em 2003, e no Brasil, em 2004. E isso porque o pensador francês, no mencionado “ensaio sobre o triunfo da estética”, fala ironicamente sobre a “beleza”, estranhando que num mundo tão preocupado com beleza física pessoal – aumentada pela cirurgia plástica, malhação, roupas de grife, maquiagem, piercings, tatuagem – pelos produtos industriais de design avançado e até pelas intervenções estéticas no ambiente, tornam-se cada vez mais raras as obras de arte propriamente ditas, ou seja, aquelas dotadas de qualidades mágicas, capazes de produzir “experiências estéticas únicas, elevadas e refinadas”. Michaud questiona o equivocado sistema de comunicações vigente nos dias atuais.
Penso que esta postura do filósofo encontra pontos de convergência na obra plástica de José Brito para o qual o mundo perdeu seu norte. Ele utiliza como matéria-prima de seu trabalho fragmentos de folhas de jornais com as notícias que veiculam, comentários, anúncios, ilustrações, colados sobre tela. Sobre essa massa de matéria fibrosa de origem vegetal coberta de linguagens, o artista aplica uma camada de tinta preta que a cobre em graus variados, objetivando criar outra forma de linguagem.
O jornal trata de pessoas, fatos e idéias, na tentativa de informar e formar seus leitores. A pintura de José Brito fala dele mesmo, de sua posição diante desse emaranhado de acontecimentos e conflitos que remetem freqüentemente ao caos. Com aguda sensibilidade, ele reorganiza a desordem numa série de obras coerentes, que possuem uma unidade estilística e conceitual incontestável na aparente diversidade formal, colorística e rítmica José Brito transforma o caos moderno num poema plástico. E o faz com conhecimento de seu ofício, com alto poder de elaboração e de invenção.
Este fascinante exercício de evocar o que já é evocação encontra paralelo, mutatis mutandis, na notável poesia “Pobre Velha Música!...”, de Fernando Pessoa, constituída apenas por doze versos, dos quais citamos os oito últimos: “Recordo outro ouvir-te./Não sei se te ouvi / Nessa minha infância / Que me lembra em ti./ Com que ânsia tão raiva / Quero aquele outrora! / E eu era feliz! Não sei: / Fui-o outrora agora.”.
José Brito é um artista sério, rigoroso, profundo, que não faz concessões, que coloca sua arte a serviço de um mundo melhor para todos.



Enock Sacramento
São Paulo, 2005

Caligrafia dum Gesto Fugaz

José Brito, técnica mista s/tela, 70x63 cm, 2003


EVOCAÇÃO DA MEMÓRIA


A minha pintura faz parte de um projecto de trabalho que tem em linha de conta uma técnica e uma proposta que visa entender o desconcerto do mundo, gritando a nossa essência humana privada de cor pela monotonia e intoxicada pelas palavras gastas.
A minha obra é uma constante experimentação e busca de novos e diferentes resultados. Questiono a linguagem artística. Emprego o suporte como pintura convertendo-o num elemento expressivo e fundamental.
Os meus quadros surgem a partir de páginas de jornais sobre as quais sobreponho a mancha de tinta negra. Coladas sobre a tela articulam-se de modo a reescrever uma nova narrativa.
É um jogo estético. Quadro de anotações e um sem fim de ideias e sensações. Uma torrente que impele a memória e a vivência construída de maneira impulsiva e directa.
O meu trabalho corresponde a crónicas biográficas onde sinais e vestígios nos remetem para além do visível, experiências vividas e marcas da erosão temporal que se articulam com ritmos, harmonias cromáticas e tonais. As colagens, mosaico de parcelas de memórias, que se justapõem ou se sobrepõem criam um espaço de ruptura e sutura, de diversidade na unidade, o todo na fragmentação, evocação das memórias que reuni.

José Brito